sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Olá,

Esta vai para as grandes amigas Nordestinas. Mulheres belas e Guerreiras que tive o privilégio de conhecer e conviver.

Recebi este texto de uma Genuína Nordestina - Maria José, continue sempre com esse sorriso que cativa, encanta e deixa o Piauí ainda mais especial.

Zeviani

VERGONHA QUE NÃO TENHO DE SER NORDESTINA...

Sheila Raposo - Jornalista

Cultivado entre os cascalhos do chão seco e as cercas de aveloz que se perdem no horizonte, cresceu, forte e robusto, o meu orgulho de pertencer a esse pedaço de terra chamado Nordeste.

Sou nordestina. Nasci e me criei no coração do Cariri paraibano, correndo de boi brabo, brincando com boneca de pano, comendo goiaba do pé e despertando com o primeiro canto do galo para, ainda com os olhos tapados de remela, desabar pro curral e esperar pacientemente, o vaqueiro encher o meu copo de leite, morninho e espumante, direto das tetas da vaca para o meu bucho.

Sou nordestina. Falo oxente, vôte e danou-se. Vige, credo, Jesus-Maria e José! Proseio com minha língua ligeira, que engole silabas e atropela a ortoépia das palavras. O meu falar é o mais fiel retrato. Os amigos acham até engraçado e dizem sempre que eu “saí do mato, mas o mato não saiu de mim”. Não saiu mesmo! E olhe: acho que não vai sair é nunca!

Hermila: em dúvida entre Natalie Imbruglia e Elis Regina
Sou nordestina. Lambo os beiços quando me deparo com uma mesa farta, atarracada de comida. Pirão, arroz-de-festa, galinha de capoeira, feijão de arranca com toucinho, buchada, carne de sol... E mais uma ruma de comida boa, daquela que, quando a gente termina de engolir, o suor já está pingando pelos quatro cantos. E depois ainda me sirvo de um bom pedaço de rapadura ou uma cumbuca de doce de mamão, que é pra adoçar a língua. E no outro dia, de manhãzinha, me esbaldo na coalhada, no cuscuz, na tapioca, no queijo de coalho, no bolo de mandioca, na tigela de umbuzada, na orêa de pau com café torrado em casa!

Sou nordestina. Choro quando escuto a voz de Luiz Gonzaga ecoar no teatro de minhas memórias. De suas músicas guardo as mais belas recordações. As paisagens, os bichos, os personagens, a fé e a indignação com que ele costurava as suas cantigas e que também são minhas. Também estavam (e estão) presentes em todos os meus momentos, pois foi em sua obra que se firmou a minha identidade cultural.

Sou nordestina. Me emociono quando assisto a uma procissão e observo aqueles rostos sofridos, curtidos de sol do meu povo. Tudo é belo neste ritual. A ladainha, o cheiro de incenso. Os pés descalços, o véu sobre a cabeça, o terço entre os dedos. O som dos sinos repicando na torre da igreja. A grandeza de uma fé que não se abala.

Sou nordestina. Gosto de me lascar numa farra boa, ao som do xote ou do baião. Sacolejo e me pergunto: pra quê mais instrumento nesse grupo além da sanfona, do triangulo e da zabumba? No máximo, um pandeiro ou uma rabeca. Mas dançar ao som desse trio é bom demais. E fico nesse rela-bucho até o dia amanhecer, sem ver o tempo passar e tampouco sentir os quartos se arriando, as canelas se tremelicando, o espinhaço se quebrando e os pés se queimando em brasa. Ô negócio bom!

Sou nordestina. Admiro e me emociono com a minha arte, com o improviso do poeta popular, com a beleza da banda de pífanos, com o colorido do pastoril, com a pegada forte do côco-de-roda, com a alegria da quadrilha junina. O artista nordestino é um herói, e nos cordéis do tempo se registra a sua história.

Sou nordestina. E não existe música mais bonita para meus ouvidos do que a tocada por São Pedro, quando ele se invoca e mete a mãozona nas zabumbas lá do céu, fazendo uma trovoada bonita que se alastra pelo Sertão, clareando o mundo e inundando de esperança o coração do matuto. A chuva é bendita.

Sou nordestina. Sou apaixonada pela minha terra, pela minha cultura, pelos meus costumes, pela minha arte, pela minha gente. Só não sou apaixonada por uma pequena parcela dessa mesma gente que se enche de poderes e promete resolver os problemas de seu povo, mentindo, enganando, ludibriando, apostando no analfabetismo de quem lhe pôs no poder, tirando proveito da seca e da miséria para continuar enchendo os próprios bolsos de dinheiro.

Mas, apesar de tudo, eu ainda sou nordestina, e tenho orgulho disso. Não me envergonho da minha história, não disfarço o meu sotaque, não escondo as minhas origens. Eu sou tudo o que escrevi, sou a dor e a alegria dessa terra. E tenho pena, muita pena, dos tantos nordestinos que vejo por aí, imitando chiados e fechando vogais, envergonhados de sua nordestinidade. Para eles, ofereço estas linhas.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Compartilhando meus pensamentos - As escolhas e o natural

As escolhas e o natural

É intrigante como em alguns poucos momentos, percebemos que chegamos próximo a ruptura do real com o imaginário. Interessante tentar se colocar como observador das nossas batalhas internas. Razão vs Emoção, certo vs errado, bem vs mal.

A dualidade existe em qualquer lugar do universo, e nós, só temos a opção de ser o protagonista ou o observador.

A escolha é parte do todo. Poderia dizer que o todo, é um conjunto de escolhas, até não escolher, não deixa de ser uma escolha.

O que realmente me pergunto as vezes, é se realmente estamos no comando, ou como uma célula dentro de um grande corpo, já estamos ali com um papel bem definido.

Independente do dilema, cabe a célula, o papel de funcionar bem, e para isso, não basta a individualidade, pois o todo depende do bom funcionamento do conjunto.

Seja no micro ou no macro, o que importa então, independente da crença ou da democrática verdade,  é fazer escolhas, sempre levando em conta a coexistência em harmonia.

Independente do organismo, a célula doente é combatida, ou morre. E se isso não ocorre, ela pode prejudicar o todo.

Observemos então a natureza, o natural, as origens. Isso pode ser peça fundamental para ajudar nas escolhas e assim tonar nossas batalhas menos dolorosas.

Mesmo assim, não nos enganemos, elas sempre existirão.

Marcelo Zeviani - 28/07/2011

domingo, 24 de julho de 2011

Literatura de Cordel - Pernambucano de Coração!!! - Até Breve Recife

É, a vida é assim: planejamos, ajustamos os planos e vamos em frente!

Foi quase um ano e meio de Recife mais uma vez com muita coisa boa pra lembrar.

As aulas de vela, infelizmente ficaram pra trás, mas fica uma promessa: um dia volto pra fazer a REFENO!!!

Deixo aqui registrado, algo que escrevi, mas não havia publicado ainda. Esta é minha homenagem de respeito e gratidão ao local e principalmente aos amigos.


 
Pernambucano de coração
Nasci numa grande cidade
Osasco era seu nome
Tinha história e renome
Vivi até certa idade
Com amor e lealdade
Desejo e ambição
Paixão e dedicação
Consegui ser graduado
E deixei o meu legado
Alegria e emoção

E continuei meu caminho
Fiz família e trabalhei
Muitas vezes me cansei
Muita dor e muito espinho
Pra família com carinho
Com força no coração
Muita garra e ambição
Sendo sempre muito ousado
São Paulo foi desvendado
Mas faltava animação

Pro Recife me mudei
Um lugar lá do Nordeste
Só conhecia o Sudeste
Osasco onde andei
São Paulo um pouco sei
Peguei logo o avião
Aperto no coração
Recife não era ao lado
Não estava acostumado
Começava outra lição

Pouco a pouco fui olhando
Pontes, rios e sobrados
As feiras e mercados
Maracatu animando
Pelas praias caminhando
Pessoas de coração
Pureza e dedicação
A cultura mora ao lado
Meu vazio foi tomado
Pernambuco invasão

Pernambuco felicidade
Encontrei o meu lugar
Meu coração tinha um lar
Vivia a simplicidade
Tesouro e raridade
Vivia a vida em canção
Amigos de coração
Num lugar abençoado
Que será sempre lembrado
Pernambuco animação

Um dia quase perfeito
A notícia inesperada
Como flecha lançada
A ponta no meu peito
Dizia não ter jeito
Apesar da indagação
Havia uma missão
Em são Paulo aguardado
O meu serviço prestado
Pernambuco aflição

Fui pra lá fiz meu papel
Trabalho duro como sempre
Toquei meu caminho em frente
Saudades olhando o céu
Da poesia de Cordel
Muita gente e solidão
Aperto no coração
Parecia amedrontado
As vezes desconsolado
Saudade e emoção

Mais uma vez de mudança
Um pouco mais saudosa
Pra Cidade Maravilhosa
Aumentou a esperança
Da busca que não se cansa
De achar consolação
Na Bossa e samba-canção
O boêmio encantado
Carnaval animado
Cristo e badalação

Pouco tempo de andança
Outro fato ocorrido
Coração estremecido
Uma nova esperança
Aumentou a confiança
Com nova convocação
Novamente uma missão
Apesar de inesperado
Do Recife o chamado
Pernambuco emoção

E aqui estou agora
Com coração preenchido
Que estava dolorido
Está feliz por hora
As lembranças de outrora
Vivo toda emoção
Agora com intensão
Por estar bem situado
No local abençoado
Pernambuco uma paixão

Agora a confiança
Em Deus eu acredito
Embora já tenha dito
São Paulo a perseverança
Pernambuco a esperança
Osasco a criação
Família e educação
Em São Paulo fui moldado
Por Recife adotado
Pernambucano de coração...

Marcelo Zeviani em 29/01/2011 – chalé no Eurosol em Tibau do Sul as 19hs

... e a vida continua, mas este texto, que retrata uma boa parte da minha vida, fica por aqui.

Um abraço a todos os amigos que tornaram possível isso que está escrito.

Marcelo Zeviani

domingo, 12 de junho de 2011

Vela - Aula 04 - 28/05/2011

Olá,

Aqui estamos para mais uma aula, que por sinal foi muito bacana.

Diferente das demais aulas, experimentamos pela primeira vez um Dingue. Um barco ainda menor que o nosso querido vovô (day sailer), com alguma facilidades e, digamos características diferentes.

O Dingue é ideal para duas pessoas, sendo assim obrigatoriamente, eu e o Jê, pela primeira vez ficariamos sem um instrutor.

Veteramos, 3 aulas de experiência, praticamente 2 lobos dos mares, sentimos, ou melhor, não demonstramos nenhuma preocupação.

O vento estava de sudoeste, não diferente da maioria dos dias, um pouco forte com rajadas mais fortes. Começamos a aula, sentindo o barco e duas coisas chamaram a atenção: primeiro, o leme era bem mais leve; segundo, o barco era muito mais arisco que o vovô. Era sensivel ao leme, respondendo bem rápido; e o mais interessante, era que adernava MUITO mais, ou seja, muito mais fácil de virar.

Sentimos facilidade pelo fato do Dingue ter somente uma vela. Na falta da buja (vela da proa), facilitava a vida do proeiro.

Muitas manobras, contormando obstáculos, o barco era veloz e a velejada estava muito agradável. Num determinado momento pedimos ao garoto do inflável de apoio buscar água, pois haviamos esquecido. A reposta dele nos deixou muito putos: - Não posso deixar vocês aqui sozinhos. Olhamos um para o outro e ficamos indignados com a observação. Como dois experientes velejadores poderiam depender de um garoto e um inflável.

Continuamos, mesmo contrariados nossas manobras e resolvemos mudar os postos e o Jeronimo passou para o leme.

Mostrando muita habilidade nos tres tipos de ventos, o Comandante continuou a aula, como se conhecesse o barco a anos: bordos, jibes e muita velocidade no través. Estavava tudo perfeito, a não ser as porradas da retranca que continuavam.

Entre um bordo e outro, uma rajada, e um leve vacilo do comandante no orçar e arribar, o barco adernou feio e ia virar em cima de nós. Não exitei e me joguei para o outro bordo e rapidamente o barco estabilizou.

Olhei para a popa, com o objetivo de comemorar o feito com o Jê e a surpresa: o Je não estava no barco. Naquele momento, me senti um navegador solitário... Olhei mais uma vez procurando meu parceiro: Jê!! Jê!!! E em meio a adrenalina, avisto meu amigo, com suaves movimentos de braços, digno de uma exibição de nado sincronizado. "Estou bem Z", disse meu amigo. Que marinheiro, pensei. Em meio a tudo aquilo, ainda arrumou uma desculpa para fazer uma inspeção do casco no barco e se atirou na água. Obvio que pensei isso, pois com sua experiência, a possibilidade dele ter se desequilibrado e caído, nem me passou pela minha cabeça.

Passado o momento de adrenalina, olhava em direção a popa e via o Jeronimo se afastando. Retomei o controle do barco, dei um bordo e em instantes ja estava com a proa na direção do Jeronimo. Ajustei o curso (estava sem referência, então mirei o Jeronimo dentro d'agua) comecei a pegar velocidade e decidi que iria resgatá-lo. Confesso que não tinha idéia como fazer isso, mas estava decidido a tentar algo. Sei-lá mirei a cabeça dele, e quando chegasse perto desviaria um pouco e tentaria puxá-lo pelo pescoço.

O barco estava se aproximando com velocidade e o nado tranquilo do Jeronimo, ficou mais intenso e ele começou a gritar: não! Sai!! sai!!! Naquele momento cai na real que meu resgate não ia dar certo, acho que eu ia acertar a cabeça dele com a proa. Desviei e desisti.

Lembrei que há capítulos e cursos específicos para resgates de homem ao mar, mas ainda não fiz nenhum, e nem li algo a respeito.

Meu amigo foi socorrido pelo inflável que já estava por perto.

De volta ao barco, ficamos em silêncio pensando no ocorrido, e entendemos o porque do garoto não ir buscar água pra nós.

A aula continuou sem mais emoções, foram varias manobras até o Jeronimo se secar.




Terminamos a aula com um retorno tranquilo ao cabanga, com o Jeronimo no leme atracando o barco com perfeição.

Nesta aula aprendemos que:

1. Devemos levar agua, pois o inflável precisa estar por perto
2. Precisamos de um treinamento de resgates

Um abraço a todos e em breve a próxima aula.

Zeviani

domingo, 22 de maio de 2011

Vela - Aula 03 - 21/05/2011

Olá,

Vamos a nossa terceira aula.



Antes da nossa aula, fizemos uma visita ao Vicente de Olinda e tivemos o privilégio de conhecer o "Ave Rara" o trimarã Pernambucano que fez história na Regata Recife-Fernando de Noronha (REFENO). Em sua 22ª Edição, o Ave Rara, além de ter sido fita azul (barco mais veloz da competição), bateu o record, completando as 300 milhas náuticas em 22h54'57''.

O Ave Rara já participou de 13 edições da REFENO. Ao longo desses anos, a embarcação foi campeã em sua classe todas as vezes com exceção de 2008, que tirou o segundo lugar. A primeira vez que conquistou a fita Azul foi em 2004.

O Day Sailer a espera do Comandante Cobrinha
Além do Ave Rara, tambem encontramos um Day Sailer a venda em boas condições. O Comandante gostou muito da embarcação.

A Aula:

Começamos as 14hs, horário combinado. Esta aula em particular, eu e o Comandante Cobrinha contamos com mais dois tripulantes, meus filhos Cecel e a Maria, que iriam ter seu primeiro contato com a vela.

O dia estava ensolarado, com ventos sul a 27km/h. Nesta aula, nosso instrutor seria o Ítalo. Saimos do Cabanga no través com nossos dois felizes tripulantes. O Jerônimo, não poderia ajudar muito pela lesão sofrida na semana anterior (esse fato merece uma postagem específica. Só posso adiantar que foi a retranca !!! Ahhh, a retranca!!!).

Bom, com isso, nem sabia o que me aguardava. O Day Sailer realmente funciona bem com 3 pessoas.

Cecel e Maria no Ave Rara!!!
A aula consistia em contornar 3 bóias dispostas em triângulo. Da forma que foi colocada, nos obrigou a navegar nos 3 ventos e o contravento mais uma vez foi nosso desafio.

Também aprendemos uma outra manobra, o jibe, que pra mim foi muito difícil.

Entre a teoria e a prática: na semana passada, exercitamos o conceito de arribar a orçar diversas vezes. Esta aula o que não faltou foi oportunidade para isso, pois pela primeira vez realmente havia um destino certo, que era contornar as bóias. Como havia dito, o Comandante estava sem poder ajudar nas escotas e por esse motivo, tive que exercitar o Leme e a Vela grande ao mesmo tempo. Se o leme sozinho era difícil, o exercício com a vela foi quase impossivel.

Vamos lá, o que dependia de mim então: garantir o rumo e a potência do barco, que é dada principalmente pela vela grande. Uma mão no leme, a outra na escota da vela. No través, se adernasse demais, ou corrigia no leme orçando sem comprometer o alvo, ou folgava a grande. Tudo indo bem, muita tensão, mas bem e entre um bordo e outro, uma rajada e o valente Vovô adernou muito. Escutei o Ítalo: Não! Não! Orça! Orça!!! E o Vovô quase virou, enchendo d'agua. Passado o susto, continuamos a aula. O Comandante ficou mudo! Preciso treinar mais o que é orçar a arribar!

Praia em frente a Marina em Olinda
Nessa hora, nossos 2 tripulantes (Cecel e Fefê) morreram de rir (principalmente a debochada da minha filha). No meio da aula, eles passaram para o inflável de apoio a motor e ficaram passeando na Bacia do Pina atrás de nós. Uma tristeza enorme!!!

A aula continuou e concluímos que nosso bordo está bom, mas precisamos aprimorar a passada (a retranca me acertou uma 3 vezes no mínimo. Uma delas fiquei sem minha boina da sorte.

Mesmo assim, consideramos que o saldo foi positivo.

Voltamos para o Cabanga no través e fizemos uma perfeita ancoragem. Saí acabado da aula. Apesar de cansado, foi satisfatório. Estamos evoluindo bem.

O que aprendemos:

- Que o Jibe precisa melhorar muito

- Que precisamos melhorar a passada do bordo

- Que se arribar no momento de orçar pode virar um Day Sailer!!!!

Um abraço a todos,

Zeviani

domingo, 15 de maio de 2011

Vela - Aula 02 - 14/05/2011

Bacia Portuária. No canto inferior esquerdo o Cabanga


Olá,

Como havia dito, vamos a nossa segunda aula de Vela.

Chegamos no horário marcado, e dessa vez, nosso instrutor foi o Junior, muito experiente por sinal.

Enquanto aguardava o Jêronimo, fui dar uma olhada com mais cuidado em nossa embarcação, e pela primeira vez, reparei em seu nome, "Vovô". Pensei em todas as possibilidades para aquele nome, mas a que fez mais sentido foi o sinônimo de "tempo e experiência". Daqui pra frente, vou me referir a nossa embarcação por "Vovô".

O valente Vovô
Pra variar, o Vovô estava cheio d'agua novamente. Deveria ser a chuva, pois no Vovô não entra água.

Saímos do Cabanga em direção a Bacia Portuária. O vento estava médio, mas ficou forte muito rápido. Comecei na proa, e Jê que logo receberia seu primeiro título, ficou no comando do leme.

A programação do dia, seria aproveitar o vento Sul/Sudoeste e navegar de través, ou seja, a 90º da linha do vento.

Tudo indo bem, até endender que o vento pode mudar a qualquer momento. De médio/fraco, para forte foi muito rápido e rajadas forte pra kct (quem tiver problemas com a nomenclatura dos ventos, leia a primeira aula) foram constantes, segundo o nosso instrutor, tinhamos ventos de 20 nós com rajadas superiores a isso. 

Vida de proeiro nessas condições não é simples: se a biruta interna da buja sai da horizontal, é preciso caçar a escota; se a biruta externa da buja sai da horizontal, é necessário folgar a escota. Se a interna e a externa sairem da horizontal, ou acabou o vento, ou fizemos besteira (era comum as duas saírem da horizontal, mesmo com vento forte!!!).

Com vento forte, a buja pesa bastante e o Day Sailer não tem moitão nas escotas (somente na vela grande), vai no mordedor direto. Com isso, a mão fica arrebentada.

Existe um outro fator: o leme define a direção da embarcação, sendo assim, se mantivermos um rumo, com vento constante, o trabalho do proeiro diminui. Mas, como havia dito, quem estava no leme era o Jê, que naquele dia resolveu trabalhar o leme como nunca e tirava o Vovô do seu rumo todo instante, exigindo do proeiro exercitar o caçar e folgar a buja constantemente.

Por sua habilidade, recebeu do nosso instrutor o título de Comandante Cobrinha, pois era isso que o valente Vovô parecia em relação a trajetória no través.

Vista da Bacia do Pina
Entre um bordo e outro no través, olhando a buja e suas simpáticas birutas, desviei da retranca que insistia em passar a centímetros da minha cabeça,  acabei batendo o ombro na borda da proa. Como valente guerreiro, não demonstrei um pingo de dor (que por sinal doeu muito), mas hoje lembro bem do ocorrido toda vez que movimento o braço.

Para nossa surpresa, o Júnior falou que iríamos tentar, apesar do vento navegar no contravento. Para isso, miramos um destino que estava na direção oposta ao vento e começamos a descrever uma trajetória de no máximo 45º da linha do vento. Aprendemos na prática que menos que isso é impraticável, pois as velas desarmam e começam a bater. No contravento, a vida do proeiro é simples: após acertar o rumo de 45º, caçamos a buja até alinhar as birutas e daí pra frente é com o leme. Se tudo correr bem, só voltamos a caçar a buja no próximo bordo. O problema no contravento é do comandante, pois o leme que se encarrega de acertar o curso, que por sua vez é dado pelo alinhamento das birutas. O Comandante Cobrinha sofreu bastante nesse momento, e eu descansei.

Invertemos os papéis, fiz o mesmo trabalho tanto no través, quanto no contravento e o Jê foi para proa. No través, a mesma caisa, ajustes da buja e correções na rota (Jê tambem sentiu muito o poder das escotas nas mãos e logo mostrou as bolhas abertas!), o problema realmente é o contravento. Não é facil alinhar as birutas, ou seja, ficar a 45º da linha do vento. Num determinado momento, o Jê me perguntou se estava tudo bem, pois eu só ficava com os olhos arregalados olhando as birutas.

Após 3hs nessa vida, levamos o valente Vovô para o Cabanga no contravento e fizemos uma perfeita ancoragem.

O que levamos de lição:

1. É difícil velejar no contravento. O importante, como o amigo Leo disse um dia, é ganhar altura, ou seja, navegar próximo ao limite dos 45º para buscar o máximo rendimento;

2. Para arribar, puxe o leme pra vc. Para orçar, empurre. Tudo com calma;

3. Se adernar muito, ou alivia a vela grande, ou, no limite, jogue um pouco mais a proa na linha do vento (orçar);

4. Use luvas na próxima aula!!!


Temos e expressões:

Proa - Parte frontal da embarcação.

Leme - Serve para manobrar o barco. Define a direção. Fica localizado na popa.

Popa - Parte traseira da embarcação.

Través - Direção de 90º da linha do vento.

Biruta - Fita presa nas velas que serve para orientar a posição com relação ao vento.

Buja - Vela de proa.

Caçar - Puxar as escotas.

Folgar - Soltar as escotas.

Escotas - Cabos de ajustes.

Contravento - Direção de 45º do vento. Dependendo da embarcação, este máximo pode variar de 30º a 60º.

Bordejar, cambar ou virar por d'avante - Manobra contra o vento ou mudar de bordo cruzando a linha do vento pela proa, mudando as velas de lado, também conhecida como cambar ou bordo.

Adernar - Inclinar a embarcação para um dos lados.

Arribar - Girar a Proa no sentido de afastá-la da linha do vento. É o contrario de Orçar.

Orçar - Girar a Proa na direção da linha do vento. É o contrario de Arribar.



Um abraço e até a próxima aula.

Zeviani

domingo, 8 de maio de 2011

Vela - Aula 01 - 07/05/2011

Olá,

A algum tempo atrás, havia decidido que iniciaria um curso de vela. As condições são bem favoráveis, atualmente morando no Recife, contamos com o Cabanga que fica muito próximo de casa.

Depois de conversar com o instrutor, tudo certo, seriam 10 aulas, com início em 07/05.


Comentei com algumas pessoas, entre espanto, apoio e dúvidas, resolvi tocar em frente.

Minha surpresa, foi ao comentar com meu grande amigo Jerônimo, ele disse: "Estou contigo nessa!"

Marcamos o horário e nos encontramos no local. Estava chovento e ventando muito*.

*Nota: possivelmente, daqui algum tempo vou me referir a velocidade dos ventos (sei-lá como) em nós. Por enquanto o termo técnico será: fraco, médio, forte e forte pra kct.

Pois bem, o instrutor, considerando as consdições do tempo, estava indo embora, mas, como bravos guerreiros, estávamos lá prontos pra nossa missão. Um pouco decepcionado, la foi ele aprontar o nosso barco.

O Barco: no início do curso, me informaram que iríamos aprender em 3 tipos de barcos e naque dia seria um Day Sailer. Lembro que antes da aula estávamos olhando os veleiros de 36, 40, 45 pés e imaginando em qual iríamos utilizar e assim, aprendemos que o Day Sailer é um exemplar de 16 pés!!!

Pensamos: começaremos com o menor e evoluiremos para o maior. Engano, o Day Sailer é o maior dos 3. Nem sei o que nos aguarda.

Olhamos aquele barquinho e nossas perguntas técnicas começaram: " é esse aí mesmo? Isso aí aguenta 3 pessoas? Esse negócio vira?

Entre um pergunta e outra o Jê soltou a pergunta mais interessante: " Ele entra água?" E a resposta foi: "Não, claro que não". Então o Jê lançou a segunda e mais certeira pergunta do dia: "Se não entra, como que aquela água entrou lá no fundo então?" Nosso instrutor respondeu que aquele dia foi exceção.

Quanto a virar, ele disse que não, mas poderia acontecer se ocorrecem erros.

Por algum motivo a partir desse momento, saber se tinha coletes passou a ser prioridade.

Vencida essa primeira etapa, começamos a velejar, saindo do Cabanga 1700mts (quase uma milha náutica!!!) na Bacia Portuária e começamos as manobras.

Foi um tal de través, proa, popa, barlavento, sotavendo, bombordo, boreste. No meio da bagunça, descobri que eu era o timoneiro e o Jê o cara da proa.

Virava 180º mudava de lado. Mudava novamente, sentava do outro lado e vendo a tal da "retranca" passar 5cm da minha testa. Numa dessas, o instrutor grita: "adernou. folga!" E???? Depois ele vira: "caça", já logo pensei, "não, só pesco!!!"

No meio disso, tudo, chuva forte e um garoto num inflável para lá e para cá, só nos acompanhando, e eu sem entender nada.

Pois bem, entre adernar, caçar, folgar, orçar, a vela da frente (a tal da buja) se solta. Segundo ele, a tal do moitão não aguentou porque o vento estava entre forte e forte pra kct.

Bom, então entendi pra quê servia o inflável. Era pra nos rebocar em caso de acidentes. 

E foi isso que aconteceu. Vento contra (sabia que estava contra, porque a chuva vinha no no meu olho, e o que levamos 5 min pra percorrer a vela, levamos 20 min sendo rebocados.

E assim, acabou nossa primeira aula e a lição mais importante é: dar manutenção da embarcação e ter uma porcaria de um moitão reserva.

Um abraço e até a próxima aula.

Zeviani

sábado, 30 de abril de 2011

Poesia - O Cordel do BBB

Como disse, o Cordel é poesia, é a expressão popular. Olha que inressante: a expressão popular, falando de algo que agrada tantos, e desagrada também uma parcela do povo brasileiro. Sem julgamentos de certo ou errado, somente poesia popular, aplicada a algo também popular.

Zeviani



Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.


                                Curtir o Pedro Bial
                                E sentir tanta alegria
                                É sinal de que você
                                O mau-gosto aprecia
                                Dá valor ao que é banal
                                É preguiçoso mental
                                E adora baixaria.

                                Há muito tempo não vejo
                                Um programa tão ?fuleiro?
                                Produzido pela Globo
                                Visando Ibope e dinheiro
                                Que além de alienar
                                Vai por certo atrofiar
                                A mente do brasileiro.

                                Me refiro ao brasileiro
                                Que está em formação
                                E precisa evoluir
                                Através da Educação
                                Mas se torna um refém
                                Iletrado, ?zé-ninguém?
                                Um escravo da ilusão.

                                Em frente à televisão
                                Lá está toda a família
                                Longe da realidade
                                Onde a bobagem fervilha
                                Não sabendo essa gente
                                Desprovida e inocente
                                Desta enorme ?armadilha?.


                                Cuidado, Pedro Bial
                                Chega de esculhambação
                                Respeite o trabalhador
                                Dessa sofrida Nação
                                Deixe de chamar de heróis
                                Essas girls e esses boys
                                Que têm cara de bundão.

                                O seu pai e a sua mãe,
                                Querido Pedro Bial,
                                São verdadeiros heróis
                                E merecem nosso aval
                                Pois tiveram que lutar
                                Pra manter e te educar
                                Com esforço especial.

                                Muitos já se sentem mal
                                Com seu discurso vazio.
                                Pessoas inteligentes
                                Se enchem de calafrio
                                Porque quando você fala
                                A sua palavra é bala
                                A ferir o nosso brio.

                                Um país como Brasil
                                Carente de educação
                                Precisa de gente grande
                                Para dar boa lição
                                Mas você na rede Globo
                                Faz esse papel de bobo
                                Enganando a Nação.

                                Respeite, Pedro Bienal
                                Nosso povo brasileiro
                                Que acorda de madrugada
                                E trabalha o dia inteiro
                                Dar muito duro, anda rouco
                                Paga impostos, ganha pouco:
                                Povo HERÓI, povo guerreiro.

                                Enquanto a sociedade
                                Neste momento atual
                                Se preocupa com a crise
                                Econômica e social
                                Você precisa entender
                                Que queremos aprender
                                Algo sério ? não banal.

                                Esse programa da Globo
                                Vem nos mostrar sem engano
                                Que tudo que ali ocorre
                                Parece um zoológico humano
                                Onde impera a esperteza
                                A malandragem, a baixeza:
                                Um cenário sub-humano.

                                A moral e a inteligência
                                Não são mais valorizadas.
                                Os ?heróis? protagonizam
                                Um mundo de palhaçadas
                                Sem critério e sem ética
                                Em que vaidade e estética
                                São muito mais que louvadas.

                                Não se vê força poética
                                Nem projeto educativo.
                                Um mar de vulgaridade
                                Já tornou-se imperativo.
                                O que se vê realmente
                                É um programa deprimente
                                Sem nenhum objetivo.

                                Talvez haja objetivo
                                ?professor?, Pedro Bial
                                O que vocês tão querendo
                                É injetar o banal
                                Deseducando o Brasil
                                Nesse Big Brother vil
                                De lavagem cerebral.

                                Isso é um desserviço
                                Mal exemplo à juventude
                                Que precisa de esperança
                                Educação e atitude
                                Porém a mediocridade
                                Unida à banalidade
                                Faz com que ninguém estude.

                                É grande o constrangimento
                                De pessoas confinadas
                                Num espaço luxuoso
                                Curtindo todas baladas:
                                Corpos ?belos? na piscina
                                A gastar adrenalina:
                                Nesse mar de palhaçadas.

                                Se a intenção da Globo
                                É de nos ?emburrecer?
                                Deixando o povo demente
                                Refém do seu poder:
                                Pois saiba que a exceção
                                (Amantes da educação)
                                Vai contestar a valer.

                                A você, Pedro Bial
                                Um mercador da ilusão
                                Junto a poderosa Globo
                                Que conduz nossa Nação
                                Eu lhe peço esse favor:
                                Reflita no seu labor
                                E escute seu coração.

                                E vocês caros irmãos
                                Que estão nessa cegueira
                                Não façam mais ligações
                                Apoiando essa besteira.
                                Não deem sua grana à Globo
                                Isso é papel de bobo:
                                Fujam dessa baboseira.

                                E quando chegar ao fim
                                Desse Big Brother vil
                                Que em nada contribui
                                Para o povo varonil
                                Ninguém vai sentir saudade:
                                Quem lucra é a sociedade
                                Do nosso querido Brasil.

                                E saiba, caro leitor
                                Que nós somos os culpados
                                Porque sai do nosso bolso
                                Esses milhões desejados
                                Que são ligações diárias
                                Bastante desnecessárias
                                Pra esses desocupados.

                                A loja do BBB
                                Vendendo só porcaria
                                Enganando muita gente
                                Que logo se contagia
                                Com tanta futilidade
                                Um mar de vulgaridade
                                Que nunca terá valia.

                                Chega de vulgaridade
                                E apelo sexual.
                                Não somos só futebol,
                                baixaria e carnaval.
                                Queremos Educação
                                E também evolução
                                No mundo espiritual.

                                Cadê a cidadania
                                Dos nossos educadores
                                Dos alunos, dos políticos
                                Poetas, trabalhadores?
                                Seremos sempre enganados
                                e vamos ficar calados
                                diante de enganadores?

                                Barreto termina assim
                                Alertando ao Bial:
                                Reveja logo esse equívoco
                                Reaja à força do mal?
                                Eleve o seu coração
                                Tomando uma decisão
                                Ou então: siga, animal?

                                FIM

                                Salvador, 20 de fevereiro de 2011.